Quem acompanha um pouco mais de perto o mercado automotivo sabe que diversas montadoras instaladas no país preferem ver o diabo a verem um carro elétrico.
E a guerra contra os veículos elétricos, atualmente todos importados, já deixou de ser velada há tempos. O ex-CEO global da Stellantis, Carlos Tavares, afirmou que o Brasil não precisa de veículos elétricos porque tem etanol.
A ANFAVEA, com seu poderoso lobby, conseguiu incluir veículos elétricos entre os produtos a serem taxados com o iminente ‘imposto do pecado’, algo que é imoral e obsceno se considerarmos que a matriz elétrica do Brasil é 84% baseada em fontes renováveis e as baterias de alta tensão podem ser totalmente recicladas SE fosse o caso. Digo se fosse o caso, pois sua vida útil tem se mostrado maior do que as expectativas e, antes de serem recicladas, podem ter uma segunda vida como armazenamento de energia no campo, nas casas ou em qualquer outro lugar. Solução ainda mais interessante se forem associadas à geração solar fotovoltaica.
A ANFAVEA também influenciou a volta do imposto de importação, mesmo sem termos, ainda, produção de um similar nacional e, agora, quer que a maior alíquota do imposto seja antecipada. Seu presidente afirma que montadoras chinesas fazem uma “desova” de carros elétricos no país devido às baixas (?) barreiras tributárias: https://www.gazetadopovo.com.br/economia/fabricantes-carros-dizem-china-desova-eletricos-brasil/
Não sou defensor das montadoras chinesas e não é sobre isso que se tratam estas mal digitadas linhas. O que ninguém percebe é que a guerra da ANFAVEA e de qualquer outro setor que é contra os veículos elétricos no país, não é com as montadoras chinesas. E, sim, contra o marketing.
É inacreditável um CEO global de uma montadora afirmar que o Brasil não precisa de algo quando sua população, seus consumidores, dão sinais inequívocos de que querem esse algo. Será que ele não aprendeu que “precisar” e “querer” são conceitos totalmente diferentes em marketing? E o que manda, aliás, quem manda é o consumidor? Se o consumidor quer algo, ir contra isso é non sense do ponto de vista mercadológico.
E a ANFAVEA, ao falar em desova, ignora que nenhuma montadora chinesa sequestrou membros das famílias dos consumidores obrigando-os a adquirir seus veículos como resgate. Nada disso. Elas simplesmente apresentaram produtos de boa qualidade, com preço adequado, disponíveis e bem comunicados. Alguém lembrou dos quatro Ps do Marketing? Pois é. Ninguém é obrigado a comprar carro elétrico chinês. Não há desova de nada. O que há é uma enorme demanda que a incompetente ANFAVEA e seus associados não conseguem atender, seja porque não querem investir mais no Brasil para produção local, seja porque não tiveram a capacidade de identificar (ou seria acreditar?) que o consumidor brasileiro adoraria o carro elétrico. É simples assim: a absoluta maioria de quem experimenta um carro elétrico adora. E quem compra um, não abre mão dessa tecnologia. Pesquisa da GEVA – Global EV Drivers Alliance, à qual a ABRAVEI é associada, deixou isso bem evidente: https://irp.cdn-website.com/07760e2f/files/uploaded/Global-EV-driver-survey-2024-webinar-presentation-10-dec-1_POR-6e506c87.pdf
Ao invés de tentar sufocar o desejo do consumidor de maneira truculenta, a ANFAVEA deveria atender sua demanda. E o Brasil, ao ter suas diversas montadoras produzindo localmente os carros elétricos, voltaria ter exportações do setor automotivo em números que, há muito tempo, não vemos mais.
É fácil? É barato? É simples? Não. Mas a história já comprovou que nenhuma lei consegue derrubar esta lei: a da oferta e da demanda. E nenhuma empresa tem sucesso guerreando contra fundamentos do marketing.
