Desconfiança natural (e má vontade)

Duvida

Antes de comprar o i3, certifiquei-me de que conseguiria carregá-lo em algum lugar prático: seja onde resido ou no local em que trabalho.

Na verdade, a idéia inicial era instalar o carregador de parede da BMW, Wallbox, em algum dos locais. E descobri que há alternativas semelhantes e consideravelmente mais baratas de carregadores Level 2, como são chamados o Wallbox e similares. Mas isso é tema para outro post.

O fato é que entrei em contato com o síndico do condomínio onde moro e com os administradores dos prédios em que eu e minha esposa trabalhamos. O prédio em que minha esposa trabalha tem, inclusive, uma certificação de edifício sustentável.

Após cerca de 3 semanas, duas boas notícias, embora parciais. E uma notícia ruim: 1) o prédio em que eu trabalho permitiu, desde o primeiro contato, que eu carregasse o veículo nas tomadas da garagem. Inclusive, prontamente substituíram uma tomada de 10A pela tomada de 20A que eu lhes forneci. Essa tomada é a mesma de três pinos, porém, com diâmetro um pouco maior (4,8MM ao invés de 4MM). Aquela mesma tomada desgraçada que seu novo microondas possui e que todo mundo usa com um benjamim ou outro adaptador de tomada, encaixado na marra,  numa tomada comum de 10A.  🙂  Aliás, agradeço ao Rafael, gerente do prédio, que foi sempre solícito. E eu sei que sou insistente, pra não dizer chato, quando quero alguma coisa.

2) Ontem, também recebi um retorno do Otávio, gerente do prédio em que minha mulher trabalha. Esse é outro indivíduo a quem agradeço bastante a colaboração e paciência comigo. E ele me deu uma boa notícia: irão instalar uma tomada de 20A em uma vaga que será destinada ao carregamento de carros elétricos.

A parte da desconfiança, título do post, é que ambos os prédios não autorizaram a instalação do carregador de parede. Mesmo com tudo feito às minhas custas e liberando para uso de outros usuários de veículos elétricos, ambos administradores me disseram que a determinação é acompanhar o quanto, de fato, o consumo do i3 representará na conta de luz do condomínio. Num primeiro momento, eventuais recargas não serão cobradas em nenhum dos locais. Mas, se o consumo for elevado, poderão vir a cobrar. Assim, se tudo der certo, quem sabe posso ter a autorização para instalar o carregador de parede no futuro. Como trabalho muito próximo à estação de recarga do shopping Vila Olímpia, ter ou não um carregador Level 2 onde trabalho deixou de ser tão importante.

3) Apesar de morar num condomínio com 11 torres e cujo terreno possui 100 mil metros quadrados, as garagens não possuem paredes. São apenas cobertas com telhas de policarbonato. Passei todas as informações sobre dimensão e consumo do Wallbox e outros carregadores Level 2 ao síndico do condomínio. Ele encaminhou o assunto à subsíndica da minha torre, após uma consulta a sua assessoria jurídica, e lá fui eu pedir permissão para instalar o carregador a partir do meu quadro de luz. A idéia era usar uma das vagas de carga e descarga, que ficam ao lado de paredes, e em horários pré-determinados. Mas, como as vagas têm tolerância de apenas 15 minutos de permanência, a subsíndica descartou a hipótese, já antecipando que isso quebraria uma regra do regimento interno e que os demais condôminos não aprovariam. Essa é a parte da má vontade a que me refiro no título do post, em minha opinião. Ainda devo voltar a insistir no tema com o síndico para tentar a permissão de usar um local da área geral e comum. O ritmo de adoção de veículos elétricos tem crescido nos EUA e Europa. E isso vai acontecer no Brasil. É uma pena que ainda não tenhamos gestores e administradores de condomínio que tenham um mínimo de visão sobre o assunto. No meu caso, não poder carregar meu veículo onde moro poderia ter me feito desistir da compra.

 

 

 

Holanda quer banir motores à combustão

Carro_fumaca

Um dos motivos que me convenceu a comprar o i3 foi o fato da BMW afirmar, de acordo com os vendedores da concessionária, que em 2030 todos seus veículos serão elétricos.

Se isso é verdade, não sei. Mas a Europa vai, sim, tomar a dianteira na adoção de meios de transportes não-poluentes. Veja abaixo a matéria sobre a Holanda, que quer banir motores à combustão em menos de 10 anos.

Holanda quer banir motores à combustão

O que esperar quando se está esperando?

Pregnant

Caro leitor, ao longo dos próximos meses, pretendo apresentar as alegrias e frustrações de ser um dos pioneiros a utilizar um carro elétrico no Brasil. E o motivo é simples: a falta de informação clara sobre o tema, especialmente num país como o nosso, tão dependente de combustíveis fósseis, e em que a infraestrutura e estímulos necessários para a ampla adoção de veículos elétricos pela sociedade anda a passos de formiga. Mas isso é assunto para outro post.

Enfim, como diria um ex-colega de trabalho: tudo começou quando eu nasci. Ou no caso, no dia 20 de maio (de 2016). Nesse dia eu fiz a TED do sinal para reservar meu BMW i3, primeiro veículo elétrico comercializado no país como qualquer outro veículo.

O título deste post pode sugerir que se trata de uma gravidez. E é quase isso mesmo. Em outubro do ano passado, fiz meu primeiro test drive no modelo. Sensacional!! Me senti numa máquina do tempo, avançando, pelo menos, uma década no futuro. Silencioso, ágil, cheio de mimos tecnológicos, a começar pelos materiais utilizados no carro, como fibra de carbono, alumínio e fibras recicladas, o i3 era um veículo que tinha tudo: estilo, atitude e apelo ecológico. Só não tinha algo fundamental: o preço.

R$ 230 mil era o preço cobrado pela versão mais completa. A mais simples, R$ 209 mil. E, ao Brasil, a BMW só destinou veículos do modelo Rex (range extender), que vêm com um pequeno motor bicilíndrico de 600cc, utilizado em scooters da marca, cuja única função é servir de motor estacionário para gerar energia para as baterias do i3. O módulo Rex garante uma extensão de autonomia de mais uns 130 a 140Km (dados da fábrica) e é acionado automaticamente quando a bateria atinge 25% de sua capacidade.

Mas, R$ 230 mil?!? Falei para o Flávio, product genius da concessionária Autostar, que me acompanhou no test drive: “Quando o preço chegar nos R$ 160 mil, eu compro”.

Cuidado com o que você deseja. No final do outubro, o governo federal reduziu o imposto sobre carros elétricos. A alíquota caiu de 27,5% para algo entre 0% e 7% de acordo com alguns critérios. Apesar disso, só em abril tomei conhecimento de um esforço da BMW em reduzir os preços do i3. Não apenas devido à redução de imposto, mas porque a montadora tinha (e ainda tem) um estoque “micando” de modelos i3 2014/2015. E vem novidades na próxima versão, como baterias de maior autonomia. Então, a ordem é desovar os i3 “velhos”. E os preços caíram para R$ 169.500 e 179.500, respectivamente, as versões mais simples e a full.

A Autostar, em abril, fez um evento muito bacana para gerar uma experiência tecnológica tendo o i3 como ponto focal. Chamou a Samsung para apresentar o Galaxy S7 com aqueles óculos de realidade virtual (que são incríveis, diga-se de passagem), um chef que preparou deliciosas comidinhas e sobremesas, e agendou um dia inteiro de test drive do veículo. Como todo homem casado sabe, ainda que você tome a decisão de comprar um carro de R$ 180 mil sozinho, se não tiver o aval de sua mulher, será como o governo interino do Temer: acusado de golpista e com direito a muita reclamação pelo resto do mandato. No meu caso, pelo tempo em que tiver o carro. E lá fui eu com mulher e filha para participar da experiência. Com todo o ambiente propício a uma boa impressão, e delegando a função de testar o carro à minha mulher, o resultado foi o óbvio: a patroa apaixonou-se pelo carro. Até estaciona sozinho, algo que tem muito valor para mulheres (por que será?!?).

A esta altura do campeonato, eu já havia coletado informações para me ajudar a convencê-la sobre a compra, como: os postos de recarga disponíveis em São Paulo (aliás, um do outro lado da rua onde ela trabalha e a duas quadras do meu trabalho, no Shopping Vila Olímpia), o custo do km rodado (R$ 1 para rodar 28 km), a pretensa autonomia de continuar rodando com o carro enquanto permanecer abastecendo o pequeno tanque de 9 litros do Rex, a promessa de que vou ficar com esse carro por anos a fio, e por aí vai.

A idéia inicial era vender a Pajero TR4, 37 mil Km, única dona, 4×4, completa, central multimídia, câmera d…. ops. Pára tudo. Não vamos vendê-la. A diferença seria muito grande para se pagar num i3. Minha 320 GT, 2014/2015 – ESPETACULAR – foi para o sacrifício em prol de um bem maior (sustentabilidade, estilo, exclusividade ou porralouquice. Chame do que quiser). E, nesse caso, a diferença foi beeeeem menor.

“- Fabio, vê aí um valor bom na avaliação da minha GT que eu fecho com você. Veja: já consegui tal valor na Osten. E eles nem viram o carro”.

E lá vai meu fiel vendedor, já mais amigo do que vendedor, e há algum tempo cliente, Fabio, buscar a melhor negociação possível. Desde os seus tempos de Agulhas Negras, concessionária BMW, nós nos conhecemos. E eu disse que um dia compraria uma BMW dele. Essa é a segunda.

E ele conseguiu melhorar a valor. Cheguei a colocar o cartão de débito na maquininha para dar o sinal da reserva. Mas, na hora de digitar a senha, travei: o valor ainda era R$ 3 mil a menos do que eu tinha me comprometido com minha mulher. Retirei o cartão e lhe disse que não dava. Precisava cumprir o prometido. Eu acredito que o Fabio sentiu um misto de frustração e ímpeto de me assassinar com requintes de crueldade. Por sorte, seu profissionalismo o fez manter a (minha) integridade. Isso foi na quarta-feira, 18 de maio. No dia seguinte, eu viajaria ao Rio de Janeiro e voltaria só na sexta-feira à noite. “- Fabio, me liga se conseguir chegar no valor”.

Viajei ao Rio. Quinta-feira…e nada do Fabio. Sexta-feira, próximo ao almoço, recebo a ligação fatídica: “-Consegui!”. De fato, o “deságio” da avaliação em relação à tabela FIPE era muito aceitável: 8%. Promessa é dívida. “Me f…”, pensei eu. Mas, assim que voltei do almoço, fiz a TED do sinal e mandei o comprovante para o Fabio. Acho que se não fizesse isso, se não cumprisse a promessa, minha integridade correria sérios riscos.

Na segunda-feira seguinte, levo a 320 GT para fazer um laudo na concessionária. Passa com louvor, claro. Trâmites de venda do meu veículo concluídos, estou na espera da BMW enviar o boleto da diferença a pagar pelo i3, o que deve ser feito hoje, para que eu possa, enfim, receber o carro em mais uma semana completando um ciclo de gravidez de aproximadamente 9 meses desde o primeiro test drive. Os próximos dias serão como os da mulher que, no final da gestação, fica à espera para entrar em trabalho de parto em qualquer dia, a qualquer momento.

Mas, uma de minhas esperas, entretanto, não terminou: há cerca de duas semanas, antes de fechar a compra do i3, já havia contatado o síndico do prédio onde moro e os administradores dos locais onde eu e minha mulher trabalhamos. O objetivo era solicitar a permissão para instalar um carregador de parede, mais rápido do que o carregador que se utiliza na tomada comum (mas de 20A, com pinos de diâmetro maior). Esse assunto ainda está em andamento. E será tema de outro post.E, pelo jeito, talvez uma das minhas primeiras frustrações.

 

PS: Duas horas depois de fazer o posto, a BMW me mandou o boleto para pagamento.  🙂