Caro leitor, ao longo dos próximos meses, pretendo apresentar as alegrias e frustrações de ser um dos pioneiros a utilizar um carro elétrico no Brasil. E o motivo é simples: a falta de informação clara sobre o tema, especialmente num país como o nosso, tão dependente de combustíveis fósseis, e em que a infraestrutura e estímulos necessários para a ampla adoção de veículos elétricos pela sociedade anda a passos de formiga. Mas isso é assunto para outro post.
Enfim, como diria um ex-colega de trabalho: tudo começou quando eu nasci. Ou no caso, no dia 20 de maio (de 2016). Nesse dia eu fiz a TED do sinal para reservar meu BMW i3, primeiro veículo elétrico comercializado no país como qualquer outro veículo.
O título deste post pode sugerir que se trata de uma gravidez. E é quase isso mesmo. Em outubro do ano passado, fiz meu primeiro test drive no modelo. Sensacional!! Me senti numa máquina do tempo, avançando, pelo menos, uma década no futuro. Silencioso, ágil, cheio de mimos tecnológicos, a começar pelos materiais utilizados no carro, como fibra de carbono, alumínio e fibras recicladas, o i3 era um veículo que tinha tudo: estilo, atitude e apelo ecológico. Só não tinha algo fundamental: o preço.
R$ 230 mil era o preço cobrado pela versão mais completa. A mais simples, R$ 209 mil. E, ao Brasil, a BMW só destinou veículos do modelo Rex (range extender), que vêm com um pequeno motor bicilíndrico de 600cc, utilizado em scooters da marca, cuja única função é servir de motor estacionário para gerar energia para as baterias do i3. O módulo Rex garante uma extensão de autonomia de mais uns 130 a 140Km (dados da fábrica) e é acionado automaticamente quando a bateria atinge 25% de sua capacidade.
Mas, R$ 230 mil?!? Falei para o Flávio, product genius da concessionária Autostar, que me acompanhou no test drive: “Quando o preço chegar nos R$ 160 mil, eu compro”.
Cuidado com o que você deseja. No final do outubro, o governo federal reduziu o imposto sobre carros elétricos. A alíquota caiu de 27,5% para algo entre 0% e 7% de acordo com alguns critérios. Apesar disso, só em abril tomei conhecimento de um esforço da BMW em reduzir os preços do i3. Não apenas devido à redução de imposto, mas porque a montadora tinha (e ainda tem) um estoque “micando” de modelos i3 2014/2015. E vem novidades na próxima versão, como baterias de maior autonomia. Então, a ordem é desovar os i3 “velhos”. E os preços caíram para R$ 169.500 e 179.500, respectivamente, as versões mais simples e a full.
A Autostar, em abril, fez um evento muito bacana para gerar uma experiência tecnológica tendo o i3 como ponto focal. Chamou a Samsung para apresentar o Galaxy S7 com aqueles óculos de realidade virtual (que são incríveis, diga-se de passagem), um chef que preparou deliciosas comidinhas e sobremesas, e agendou um dia inteiro de test drive do veículo. Como todo homem casado sabe, ainda que você tome a decisão de comprar um carro de R$ 180 mil sozinho, se não tiver o aval de sua mulher, será como o governo interino do Temer: acusado de golpista e com direito a muita reclamação pelo resto do mandato. No meu caso, pelo tempo em que tiver o carro. E lá fui eu com mulher e filha para participar da experiência. Com todo o ambiente propício a uma boa impressão, e delegando a função de testar o carro à minha mulher, o resultado foi o óbvio: a patroa apaixonou-se pelo carro. Até estaciona sozinho, algo que tem muito valor para mulheres (por que será?!?).
A esta altura do campeonato, eu já havia coletado informações para me ajudar a convencê-la sobre a compra, como: os postos de recarga disponíveis em São Paulo (aliás, um do outro lado da rua onde ela trabalha e a duas quadras do meu trabalho, no Shopping Vila Olímpia), o custo do km rodado (R$ 1 para rodar 28 km), a pretensa autonomia de continuar rodando com o carro enquanto permanecer abastecendo o pequeno tanque de 9 litros do Rex, a promessa de que vou ficar com esse carro por anos a fio, e por aí vai.
A idéia inicial era vender a Pajero TR4, 37 mil Km, única dona, 4×4, completa, central multimídia, câmera d…. ops. Pára tudo. Não vamos vendê-la. A diferença seria muito grande para se pagar num i3. Minha 320 GT, 2014/2015 – ESPETACULAR – foi para o sacrifício em prol de um bem maior (sustentabilidade, estilo, exclusividade ou porralouquice. Chame do que quiser). E, nesse caso, a diferença foi beeeeem menor.
“- Fabio, vê aí um valor bom na avaliação da minha GT que eu fecho com você. Veja: já consegui tal valor na Osten. E eles nem viram o carro”.
E lá vai meu fiel vendedor, já mais amigo do que vendedor, e há algum tempo cliente, Fabio, buscar a melhor negociação possível. Desde os seus tempos de Agulhas Negras, concessionária BMW, nós nos conhecemos. E eu disse que um dia compraria uma BMW dele. Essa é a segunda.
E ele conseguiu melhorar a valor. Cheguei a colocar o cartão de débito na maquininha para dar o sinal da reserva. Mas, na hora de digitar a senha, travei: o valor ainda era R$ 3 mil a menos do que eu tinha me comprometido com minha mulher. Retirei o cartão e lhe disse que não dava. Precisava cumprir o prometido. Eu acredito que o Fabio sentiu um misto de frustração e ímpeto de me assassinar com requintes de crueldade. Por sorte, seu profissionalismo o fez manter a (minha) integridade. Isso foi na quarta-feira, 18 de maio. No dia seguinte, eu viajaria ao Rio de Janeiro e voltaria só na sexta-feira à noite. “- Fabio, me liga se conseguir chegar no valor”.
Viajei ao Rio. Quinta-feira…e nada do Fabio. Sexta-feira, próximo ao almoço, recebo a ligação fatídica: “-Consegui!”. De fato, o “deságio” da avaliação em relação à tabela FIPE era muito aceitável: 8%. Promessa é dívida. “Me f…”, pensei eu. Mas, assim que voltei do almoço, fiz a TED do sinal e mandei o comprovante para o Fabio. Acho que se não fizesse isso, se não cumprisse a promessa, minha integridade correria sérios riscos.
Na segunda-feira seguinte, levo a 320 GT para fazer um laudo na concessionária. Passa com louvor, claro. Trâmites de venda do meu veículo concluídos, estou na espera da BMW enviar o boleto da diferença a pagar pelo i3, o que deve ser feito hoje, para que eu possa, enfim, receber o carro em mais uma semana completando um ciclo de gravidez de aproximadamente 9 meses desde o primeiro test drive. Os próximos dias serão como os da mulher que, no final da gestação, fica à espera para entrar em trabalho de parto em qualquer dia, a qualquer momento.
Mas, uma de minhas esperas, entretanto, não terminou: há cerca de duas semanas, antes de fechar a compra do i3, já havia contatado o síndico do prédio onde moro e os administradores dos locais onde eu e minha mulher trabalhamos. O objetivo era solicitar a permissão para instalar um carregador de parede, mais rápido do que o carregador que se utiliza na tomada comum (mas de 20A, com pinos de diâmetro maior). Esse assunto ainda está em andamento. E será tema de outro post.E, pelo jeito, talvez uma das minhas primeiras frustrações.
PS: Duas horas depois de fazer o posto, a BMW me mandou o boleto para pagamento. 🙂
Rodrigo, parabéns! Acho ótima a ideia de expor suas impressões sobre seu BMW i3. Tenho certeza que daqui 20 anos este tema não seja novidade para mais nenhum ser humano aqui na Terra (se é que já podemos pensar assim…) Um forte abraço!!! Fábio Campos!
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