Balanço “social” dos primeiros 1.000 km

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Nem bem pisquei os olhos e lá se foram mil quilômetros. É um momento apropriado para fazer um resumão, um balanço, de como está sendo a experiência de ter um carro elétrico. Especificamente, o BMW i3.

E, pra começar, o balanço é social. Sim. Se você não é uma pessoa minimamente sociável, não compre um carro como o i3. Além dos olhares curiosos que o carro desperta ao rodar, em qualquer estacionamento e, mesmo quando estiver parado no trânsito, pessoas vão lhe abordar pra perguntar sobre o veículo. E elas não sabem se você está correndo atrás da meta ou atrasado para uma reunião. Então, desenvolver a sociabilidade é um dos efeitos colaterais de se ter um i3.

Mas, item a item, vamos ao resumo:

Autonomia: a promessa de 300km de autonomia é, realmente, uma promessa. Em São Paulo, que tem seus altos e baixos topográficos e um trânsito bem intenso, isso não acontece. Não cheguei a esgotar a carga da bateria. Apenas o tanque do REx (gerador de energia), para a gasolina não ficar velha. Mas meu palpite, baseado nos indicadores de autonomia da bateria, é que o i3 consegue fazer uns 240 a 250 km na capital paulista. E isso no modo ECO Pro+, que não tem ar-condicionado e é todo otimizado para o consumo. É ruim? Na verdade, não. Ainda mais considerando que a proposta do i3 é ser um carro urbano. Eu já tive uma Ford Explorer em que coloquei GNV. A autonomia da viatura era de 140 Km com um cilindro de 22 m3. E eu nunca tive problema em abastecer com mais frequência por causa disso.

Desempenho: espetacular. Não há outra palavra pra definir. Arranca muito, grudando os ocupantes no banco. E isso é ainda mais verdade quando o carro já está em movimento, tendo saído da inércia. Mesmo no modo ECO Pro+, que amansa o i3, ao fazer o “kick down”, ele dispara. Não tem pra ninguém. Uma vez, confesso envergonhado, vi uma BMW M3 vindo pela marginal Pinheiros costurando e ultrapassando todo mundo. Ao chegar perto de mim, com o intuito de me ultrapassar, pisei fundo no acelerador e a deixei pra trás. Isso por poucas centenas de metros, obviamente. Mas foi divertido. E imagino a cara de surpresa do motorista da M3, pois o design do i3 pode sugerir muitas coisas. Mas, o desempenho não é uma delas.

Abastecimento: sou um felizardo. Apesar do meu condomínio residencial não permitir que eu instale uma tomada, ou mesmo o Wallbox (carregador de parede mais potente), ainda que puxando a fiação do meu relógio de luz, meu local de trabalho permite que eu carregue o veículo. E, a duas quadras do meu escritório, fica o Shopping Vila Olímpia que conta com vaga para carro elétrico com carregador de parede. Em frente (ou seria atrás?), do shopping, fica o escritório da minha mulher, cuja administração do prédio, prontamente, preparou duas vagas para carros elétricos com tomadas de 20A e 220V. O tempo de abastecimento na tomada 220V, considerando que eu nunca fico com menos do que 30% de carga, tem variado entre 3 e 7 horas. Se eu usar o carregador do shopping, o tempo cai pela metade.

Gerador de energia: o tal do REx – Range Extender. Com 9 litros de gasolina, o REx tem a missão de manter a carga da bateria ou gerar uma autonomia suplementar. Ele pode ser acionado manualmente com uma carga máxima de 75% da bateria. Com cargas maiores, o REx não entra em ação. Percebi que, se rodar no plano e no modo ECO Pro+, a tarefa é cumprida a contento. Mas, em trechos mais íngremes, ou numa tocada mais esportiva, a bateria reduz um pouco sua carga. Lembro que a proposta do REx é algo como um salva-vidas para os condutores mais desatentos em relação à autonomia da bateria. Pela minha experiência, a autonomia máxima real que o REx permitiria em São Paulo seria algo entre 110 e 120 km. Isso significa um consumo de 12 Km/l. Não é ruim, mas também não é bom. Entretanto, não acredito que quem compra um i3 pensa em rodar na gasolina, certo?

Pneus: um dos itens que realmente me preocuparam – e ainda me preocupam – ao adquirir o veículo. Os pneus são grandes, aro 20, finos e de perfil bem baixo. Os da frente mais finos do que os de trás. E o motivo é a redução de atrito, pois isso impacta o consumo. Como tive uma X1 2014 com pneus aro 18 e perfil  baixo (/45), tive a infelicidade de ter que trocar três pneus em um ano. Tudo por causa das crateras que existem na malha viária da cidade e que causaram bolhas nos pneus No caso do i3, felizmente, até o momento isso não aconteceu. E tive a infelicidade de passar por dois buracos sorrateiros que me deixaram os poucos cabelos arrepiados. Ainda assim, dirijo o i3 sem pressa nas ruas esburacadas, sempre atento a buracos. E sempre com a calibragem para carga máxima.

Conforto: o i3 tem um espaço interno muito bom para um carro cujas dimensões exteriores são pequenas. E isso se deve a alguns fatores como: ausência de motor, que diminui o tamanho do cofre e essa sobra é aproveitada na cabine; assoalho plano, sem o túnel central, que dá uma sensação de amplitude; altura da carroceria; e, a ausência do assento central traseiro. Para os mais desatentos, até parece que o banco traseiro é para três passageiros. Mas, no centro, você conta com um porta copo. Logo, é um carro para quatro pessoas. Apesar de estar longe de ser desconfortável, a combinação dos pneus finos e baixos e suspensão firme faz com que rodar nas ruas péssimas de São Paulo – que além de buracos têm remendos e diversas imperfeições e desníveis – seja algo notado pelos ocupantes do veículo. O ambiente natural do i3 é o asfalto. Ali ele – e todo mundo dentro dele – se sente muito à vontade. Na minha opinião, o principal item de conforto do i3 é o seu silêncio. Quando o REx está desligado, o silêncio é quase absoluto, apenas quebrado por um delicioso assobio causado pelo deslocamento. Mesmo quando o REx entra em ação o ruído é pequeno e ocasional, pois o funcionamento do REx é intermitente. O ponto realmente negativo para o conforto é o fato dos vidros das janelas traseiras serem fixos. Apenas os vidros das portas dianteiras podem ser recolhidos. Uma mancada, em minha opinião. Ah, sim: o serviço de concierge, que, salvo engano, está presente em todos os BMW no Brasil a partir de modelos 2016, é um item de conforto pela disponibilidade a qualquer momento.

Bagageiro: é pequeno. Mas não é minúsculo. Se considerar que os bancos traseiros são rebatíveis, e que você conta com a grande altura da carroceria, a capacidade de carga do i3 é até surpreendente. Mais do que suficiente para o uso urbano. E suficiente para uma proposta de viajar em três pessoas.

Materiais utilizados: o i3 parece um TCC de quem fez Arquitetura com enfoque em sustentabilidade. E isso não é, necessariamente, um elogio. No interior, há fibras recicladas que dão um toque excessivamente despojado ao veículo, madeira de reflorestamento (essa, sim, um golaço em minha opinião), couro, tecido, tela fina de tecido no teto solar e plástico. Eu acho muita coisa. E, falando sobre isso, me dei conta de que tudo é harmônico, menos a fibra reciclada que fica nas portas e atrás do painel, em toda frente do veículo. Ela chama muito a atenção por sua textura, inevitavelmente. Talvez a idéia seja essa: deixar claro a proposta sustentável do carro. Eu não gosto, mas não é por isso que deixaria de comprá-lo.

Estilo: não acho o i3 bonito. E nem feio. Acho diferente. A 320 GT, sim, eu considero um carro belíssimo. Mas, se falarmos em estilo, o i3 merece destaque. Ele é uma “nave espacial”. As janelas traseiras são maiores do que as dianteiras, o que é algo inusitado. O perfil do carro é diferente, com uma pequena elevação no início do teto. As  portas traseiras suicidas (abrem para trás) são incomuns. E os materiais da carroceria e monobloco, que combinam plástico, fibra de carbono e alumínio são inovadores.

Problemas: sim, o i3 teve e tem problemas. Pequenos e administráveis. O primeiro foi o fato de que um cabo elétrico do sistema do airbag apresentou mau contato com menos de 500Km e demorou três semanas para a peça de reposição estar disponível. A maçaneta de uma das portas traseiras também estava desregulada, mas foi ajustada na concessionária. Outro problema é que o piloto automático adaptativo, que mantém a distância para o carro da frente, não é adequado para um trânsito tão cheio de motoristas mal educados como os brasileiros, que cortam sua frente na primeira oportunidade. A culpa não é do piloto automático, mas o fato é que ele ou freia abruptamente (o que era de se esperar) ou, eventualmente, perde a “sensibilidade” para o carro da frente e não freia. Em qualquer situação, você tem que estar atento. O auto parking, que faz o carro estacionar sozinho, é uma loteria para mim. Às vezes consigo fazê-lo funcionar, às vezes não. Pode ser que o problema esteja no “burrinho do volante”. Mas eu sigo à risca os procedimentos. Ou tento. A ausência de um DVD player é, também, um problema na minha opinião. Apesar de contar com um HD capaz de armazenar milhares e milhares de músicas, quem tem uma coletânea de CDs vai ter que convertê-los para MP3 se quiser ouví-la no carro. Além disso, com uma tela tão grande no centro do painel, poder tocar um filmezinho no DVD seria pertinente.

No final, o balanço tem um saldo muito positivo. Sem dúvida, com todas as informações e experiências que adquiri ao longo dos primeiros mil quilômetros, minha decisão pela compra do veículo seria a mesma. E, após estes primeiros meses, estou ainda mais engajado no sentido de ajudar o mercado de carros elétricos a crescer no país.

 

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